Eldorado/Estadão - Presidente da FAESP fala sobre crédito de carbono
Publicado em 14/04/2025
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COP-30 vem aí e crédito de carbono, como isso funciona? Tem muita gente que fala, uns não acreditam, outros já estão fazendo. Estou com Tirso Meirelles, presidente da FAESP – Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo e Senar. Perguntei a ele sobre qual é a realidade do mercado de carbono e para onde vamos e ele me respondeu:
“É um assunto eletrizante porque todo mundo está falando agora, e nós teríamos condições de ser os precursores de todo esse processo. Nós tivemos ano passado uma discussão grande no Congresso Nacional para que realmente pudesse criar leis específicas para isso, mas eles queriam colocar o aspecto do crédito de carbono daqui para frente. Então não justifica todos nós que preservamos 20% aqui no Sudeste, 35% no Cerrado e 80% na Amazonas não contabilizarmos isso. Então isso foi muita injustiça e o Congresso conseguiu reverter isso e vai realmente considerar aquelas florestas ou matas que nós preservamos. Para você ter uma ideia, em 2020, que não faz muito tempo para 2025 nós tínhamos aí em torno de 12% da Mata Atlântica no Estado de São Paulo. Hoje nós chegamos a 25%. E hoje com o Código Florestal sendo implantado nós temos um débito de 600 mil hectares para ser ampliado nesse processo como um todo. Então esse processo vai ser muito interessante, por quê? Porque o produtor rural de 2008 para trás, o que está realmente feito fica daquela forma, mas de 2008 para cima vamos dizer que eu utilizei uma área que era reserva, então eu posso comprar uma reservar florestal do Governo eu pago para o Governo o percentual para que eu possa utilizar. Agora é importante informar também que essa quantidade que preservamos são terras produtivas. Lá fora, quando você pega Estados Unidos, África, China, nós estamos falando de deserto que eles deixam de reserva legal que não serve para nada. Nós estamos deixando áreas produtivas. E nós fizemos um conceito muito interessante com a Embrapa. A Embrapa Sudeste de São Carlos tem feito um trabalho onde hoje nós sabemos o que nós podemos compensar de CO2 da terra para cima. Tudo que nós podemos fazer. Prova é que todos os nossos eventos que estamos fazendo pela FAESP/Senar, nós fazemos CO2 neutro, que é aquilo que você gasta de CO2 e o que você vai compensar. Nós estamos compensando esse processo como um todo. Hoje na Embrapa Sudeste está utilizando as raízes das árvores, as de nossas pastagens que retém o CO2 também. Então aquela função, aquela ideia, que o mundo colocou que nós temos um rebanho de 220 milhões de cabeças e que nós somos poluentes por causa do pum do gado ou do arroto do gado. Não é verdade, porque 94% do nosso rebanho é pastagem. E hoje nós temos 20% que é floresta, agricultura e pecuária, uma compensação. Agora quando você tem uma concentração de animais em um local só, aí tudo bem porque é o que os outros países têm. O nosso não, é pastagem verde. Então com a aprovação no Congresso Nacional vão começar agora a fazer as nossas debêntures para que nós possamos comercializar. E o Governo já tomou algumas atitudes no Plano Safra. Onde o Plano Safra que nós já falamos para o Governo que deveria ser um plano de médio e longo prazo, de 10 anos, porque como você sabe investimento ou cultivo que você faz em uma propriedade você enterra dinheiro, porque você não sabe se vai ter retorno porque depende do sol, e da chuva. Então há um risco permanente que o produtor tem. Então estamos trabalhando esse processo de um Plano Safra de longo prazo e o Governo está começando a desenvolver um Plano Safra compensando aquele que realmente está preservando as reservas rurais com cadastro ambiental rural para que possamos compensar o nosso crédito de carbono. Nós já vimos atividades interessantes, inclusive o ministro Nardes, do Tribunal de Contas da União fez uma composição com crédito de carbono que é uma transposição de valores que eles fizeram como uma moeda e eles entregaram 20% do crédito de carbono como ele fazia para a Massey Ferguson deu um desconto de 20% e fez a compensação do crédito de carbono. Então isso vai ser muito importante para que você possa maximizar seus lucros e diminuir suas despesas utilizando aquilo. E nós temos um programa muito interessante aqui no Senar São Paulo que é o trabalho das águas escuras. E o que é a água escura, são as águas de esgoto das propriedades rurais. Isso era jogada em um rio ou deixado em uma fossa e hoje nós fazemos toda uma compensação para que antes de chegar no rio ela esteja totalmente pura e utilizar essa água para outras atividades dentro da propriedade rural. Além disso, nós procuramos dentro da propriedade cursos gratuitos onde estão os olhos d’água, que são as minas e recuperamos as minas, porque essas águas bem preservadas você pode usar para irrigação, você pode usar também para a cidade. Você pega por exemplo na propriedade em que estamos fazendo o Centro Tecnológico em São Roque. Lá nós temos uma reserva muito boa de água, que quando em São Roque falta água, é aquele centro que abastece São Roque. Então a integração cidade-campo, campo-cidade é fundamental para que nós possamos proteger a cidade e vice-versa. É por isso que eu falo que a sinergia entre o campo e a cidade tem de estar juntos”.
Totalmente. Perguntei então ao Tirso como está a integração pecuária, lavoura e floresta (IPLF) e se está crescendo no Estado de São Paulo e ele me respondeu: Sim, você pega hoje em nossa propriedade que tem 11 cachoeiras, nós preservamos todo o processo e fazemos lá pecuária de corte. Nós utilizamos exatamente esse sistema e é fantástico, bem-estar animal é outra coisa. Hoje nós tínhamos 42 meses para você fazer um animal de 18 quilos, hoje nós fazemos praticamente em 18, 20 meses. Então você também diminuiu a quantidade de fazer um animal e você também está diminuindo a poluição do processo como um todo. A lavoura, pecuária e floresta é fundamental principalmente para o bem-estar do animal, e também para a nossa sociedade que hoje nessas áreas degradadas, nós temos muita ainda em São Paulo, nós estamos utilizando exatamente dessa forma”.
Como o próprio Alysson Paolineli me disse um dia que “o que trouxe o mundo até hoje foi a agricultura de clima temperado, mas o que vai levar a agricultura daqui para a frente é a agricultura de clima tropical”.
“É verdade, de você pegar essa linha de tempo na federação está lá o Alysson Paolineli que foi nosso presidente da Confederação Nacional da Agricultura, uma grande alegria”, disse Tirso.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.