Eldorado/Estadão - Sem um plano de ação ficamos defasados da Agenda 2030 e não teremos uma gestão integrada ambiental
Publicado em 06/10/2023
DivulgaçãoEntrevistei Sonia Chapman, secretária executiva da Rede Empresarial Brasileira de Avaliação de Ciclo de Vida, uma das maiores especialistas com visão de números da sustentabilidade no país. A atual proposta de regulação do mercado de carbono aprovado pelo Congresso com a agropecuária fora da regulação indica, na verdade, ser impossível ter uma fórmula única para realidades muito distintas, que irão exigir foco regional numa visão sistêmica e integrada de todas as peças desse complexo sistêmico, um lego ambiental brasileiro que exige governança.
“Na minha experiência profissional em diferentes segmentos, culturas e internacional vejo a necessidade do olhar integrado da gestão, olhando riscos e oportunidades.
Como identificar quem é necessário e como engajar diferentes atores, ao longo da cadeia?
Como aprender uns dos outros, focando no desafio que se apresenta, não no segmento, país ou interesse específico?
O olhar de Ciclo de Vida nos ensina a focar na função de qualquer coisa e a considerar alternativas nesta mesma função
Estas alternativas precisam ser analisadas em condições claras, como fronteiras temporal, geográfica e de tecnologia, nos pilares econômico, ambiental e social, em diversas categorias de impacto – impacto este que pode ser negativo ou positivo.
É, claro, um processo mais completo e complexo de coleta de informações, antes de tomarmos decisões (de consumo ou de investimento).
Por isso é importante fazermos mais perguntas, do que acreditarmos que temos as respostas.
O olhar sistêmico na gestão demanda mais colaboração, empatia, respeito às diferentes opiniões e dados, representativos e confiáveis, para construirmos um Plano de Ação que faça, de fato, a diferença.
Por não estarmos fazendo isso estamos tão defasados em relação às metas da Agenda 2030 e retrocedemos mundialmente ao Índice de Desenvolvimento Humano de 2016.
Lembrando que o IDH é composto por três grandezas: a renda familiar, a expectativa de vida e os anos na escola.
É claro que a pandemia e a guerra da Rússia contra a Ucrânia comprometeu esses fatores enormemente.
Então temos vários ambientes, que reconhecem a importância de uma gestão integrada, uma governança holística:
Os Acordos Setoriais no contexto da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que define a responsabilidade compartilhada no ciclo de vida.
A nova Lei de Licitações, de 01.04.2021, que determina que o Governo compre pensando os argumentos de qualquer coisa no ciclo de vida.
As negociações em andamento no Tratado Global dos Plásticos
Linhas de financiamento à inovação, como a Lei do Bem ou o Rota 2030 para o setor Automotivo.
O RenovaBio, o Combustível do Futuro... E tem muito mais!
O que a gente vê é que a Inteligência Artificial pode vir a ajudar na coleta de informações qualificadas; ferramentas gerenciais apóiam a tomada de decisão, e há cada vez mais capacitações em ciclo de vida.
Mas nada disso será suficiente, se não reconhecermos que precisamos mudar a forma como vínhamos extraindo, produzindo, consumindo e desperdiçando recursos, expectativas e talentos”, concluiu Sonia.
Como Sonia Chapman afirmou, “precisamos mudar a forma como extraímos, produzimos, consumimos e desperdiçamos recursos, expectativas e talentos. E por não termos um plano de ação integrado que faça a diferença estamos tão defasados em relação as metas da agenda 2030 e retrocedemos mundialmente ao Índice de Desenvolvimento Humano de 2016.
O lego ambiental brasileiro exige governança de todas as suas peças integradas. E das cadeias produtivas de regiões homogêneas. Daí, sim, teremos métricas racionais para a regulação do mercado de carbono.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.