Eldorado/Estadão - Silvia Massruhá, presidente da Embrapa, afirma: “o Brasil já é o maior exemplo da bioeconomia mundial”, no evento Planeta Campo do Canal Rural
Publicado em 10/11/2023
DivulgaçãoConversei com a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária que representa a ciência e a tecnologia, e tudo que vemos no país de energia, de alimentos e de meio ambiente. E nós estamos em um evento sobre bioeconomia, economia verde, crédito de carbono e pergunto a Silvia como vê os próximos passos da pesquisa e da ciência brasileira nesse mundo do carbono, do metano, da economia verde e para onde vamos?
“Estamos hoje discutindo a questão do crédito de carbono regulado e voluntário em nosso país. Eu acho importante destacar que o Brasil já trabalha com práticas sustentáveis desde o agroplantio direto, estação biológica de nitrogênio, sistemas consorciados e integrados, tudo já pensando na sustentabilidade do agro e, informalmente, nós já calculávamos a emissão de carbono e o que dentro dessas práticas sustentáveis e o quanto elas podem mitigar essa emissão de carbono. Só que até hoje nós trabalhamos muito por cadeia produtiva, na carne, na soja, no leite. Nós temos de trabalhar com a diversidade de cultura que temos, com os sistemas de produção que temos no Brasil. Nós temos de começar a trabalhar com essa regra: quais são as métricas? Tropicalizar essas métricas e esses indicadores e trazer isso para o jogo. Vamos dizer assim, e é como referência que somos em agricultura tropical. Além disso eu acho que estamos passando por um momento em que nós precisamos trabalhar com a governança disso tudo. Eu vou explicar o porquê. Nós já trabalhamos com várias políticas públicas. Eu, particularmente, pela Embrapa envolvida no zoneamento agrícola de risco climático, uma política pública, Plano da Agricultura de Baixo Carbono, Renovabio e como sempre fizemos nessas políticas públicas? Primeiro vem a ciência o que já coletamos nos últimos anos daquela temática e você começa, então, a organizar os dados, a estrutura, primeiro a governança desses dados e da estrutura para criar um protocolo, uma base, uma regra para que os outros atores possam ver a régua do Brasil, vamos dizer assim e incentivar, por exemplo no Renovabio, o uso de biocombustíveis, mas ter os critérios para a elegibilidade e de quem pode se beneficiar daquilo. Então eu acho que nesse momento além das metas trabalhar com a governança como uma política pública. A Embrapa, com a ciência, trazer os dados científicos, porque já temos a calculadora com a pegada de carbono, trabalhando com várias culturas, mas nós temos de trazer agora os indicadores e ajudar a formular essa política pública. De repente criar câmaras setoriais do carbono para nós trazermos todo mundo junto”.
Silvia, para encerrarmos esse nosso breve papo muito importante, o Brasil, nós vamos ser os reis da bioeconomia? Qual a sua visão?
“De novo, eu acho que nós já somos. Peguei um dado interessante do portfólio de pastagens que a Embrapa trabalha, e que é até para entender melhor essa questão da bioeconomia na Amazônia, eu vou lhe pegar um exemplo dos 50 anos da Embrapa trabalhando com a questão de pastagens, usando e passando das gramíneas exóticas da Amazônia para pastagens com leguminosas extrativas do Brasil. Olha só, nós conseguimos recuperar ali 55 milhões de hectares de pastagens nesses 50 anos atendendo ali 700 mil produtores na Amazônia como um todo. E disso daí, para termos uma ideia, essa pastagem praticamente virou uma biofábrica incentivando a fixação biológica de nitrogênio. E sabe quanto teve de emissão nesse estudo do portfólio de pastagens mostrou? 33% da emissão de gás de efeito estufa nesse trabalho nos últimos 50 anos. Então, assim, para isso a gente não media esses dados. Por isso que eu falo, do começo da nossa conversa que informalmente nós já fazíamos e hoje nós temos dados para medir, antes nós não tínhamos. Hoje nós temos dados e tecnologia para medir e esse é o nosso desafio e fala isso para o mundo todo”.
Silvia Massruhá, primeira mulher a assumir a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), muito obrigado.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.