Eldorado/Estadão - Toda mudança dói, mas o caminho sustentável é inexorável. Inteligência para transição: o desafio.
Publicado em 03/02/2025
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Mudar sempre foi dolorido. Imagino nossos antepassados saindo de suas casas como imigrantes para um desconhecido tropical. O Brasil é feito de quase todos os povos do planeta. Aqui nos adaptamos e criamos uma sociedade “considerada improvável” tropical. E agora já estamos e vivemos uma jornada inexorável para um planeta que será governado obrigatoriamente por uma lógica da governança sustentável.
E ela é boa ou má? Depende. Para o que tem que mudar e ainda está prisioneiro das amarras do passado que nos trouxe até aqui como uma grande massa industrial funciona como um animal sob a análise de Charles Darwin se negando a adaptar-se às mudanças do ambiente. E como concluía Darwin na Teoria da Evolução, não era o mais forte que superava era o mais veloz e inteligente. Adaptação.
Os velozes e inteligentes estão à disposição para os olharmos como exemplos. A China, segunda maior economia planetária, com um PIB na casa de US$ 20 trilhões deverá crescer cerca de 5% neste ano (significa crescer um Brasil em 2 anos). E ao olharmos parte significativa do seu crescimento ao longo dos últimos 10 anos vamos ver no seu planejamento estratégico de estado o setor e toda uma indústria voltada ao meio ambiente e sustentabilidade para transformar suas emissões de carbono em economia limpa. E mais do que reclamar, os chineses transformaram isso numa alavanca de empregos, investimentos, tecnologias e negócios.
No Brasil, ano de COP 30 dentro do bioma amazônico, podemos observar e apontar setores avançados dentro das práticas sustentáveis tendo ótimos resultados. Exemplos? A cadeia produtiva do algodão brasileiro, que praticamente havia sido destruída no final dos anos 80, a partir do início dos anos 90 se redefine como uma cadeia de governança ambiental, social, e de inteligência nas relações dos seus elos desde a pesquisa até os consumidores finais, e de 2º maior importador de algodão no mundo, conquistamos a posição do maior exportador, suportando e superando as exigências mais severas de uma rede da moda e de griffes, onde quem adquire uma Miu Miu, Prada, Loewe, etc, quer excelência sustentável.
No Brasil quando prestamos atenção na Rede ilpf, conhecimento tropical da Embrapa que ensinou a administrar ao mesmo tempo lavouras, com pecuária e florestas. A Rede ilpf tem hoje na sua presidência Francisco Maturro que me disse estarem preparando uma pesquisa para o correto dimensionamento da área envolvida, mas com certeza já devemos estar acima de 20 milhões de hectares e crescendo. E quais os resultados de quem faz isso? Basta olhar para a produtora rural Marize Porto de Ipameri, Goiás, um ótimo exemplo, e concluir o que ocorreu com sua propriedade que saltou do prejuízo para o lucro com uma governança sustentável como ilpf.
O setor da indústria brasileira da árvore, papel, celulose, competindo globalmente com práticas que resistem aos mais severos julgamentos sustentáveis. Palma como Agropalma, por exemplo, no Pará etc. Assim como o trabalho feito pelo Cecafe, ao lado da Serasa Agro Experien na Suíça mostrando e provando a sustentabilidade do café brasileiro, onde foi possível ouvir de líderes presentes que pouquíssimos países poderiam demonstrar o que o Brasil mostrou.
O bom cooperativismo, ano internacional, já nasce obrigatoriamente como sustentável, e as cooperativas estão à disposição para serem imitadas.
O plano do combustível do futuro, os movimentos do biogás no interior como a bioplanta inaugurada numa associação da cooperativa Primato, em Toledo, Paraná, com a indústria Tupy MWM, o biometano da Única, a Be8 criando novos biocombustíveis, Bevant e vendendo na Europa, etc. Não são mais apenas devaneios ideológicos de uma juventude “new hippie”.
Significam negócios de verdade que geram lucro, e como podemos admirar também em produtores rurais como o “Zecão” de Lucas do Rio Verde, eleito ano passado o melhor exemplo de produtor de soja que atua num modelo conservacionista e regenerativo. Ele me disse: “no stress climático que cruzamos aqui nos últimos anos consigo ter uma performance média superior aos produtores que não utilizam os fundamentos conservacionistas”.
Exemplos assim encontramos desde o A do abacate, dos “avocados” até o Z do Zebu, na proteína animal como em Anaurilândia (MS), uma pecuária regenerativa “marsuriana” se desenvolve, apenas para dar um exemplo dentre milhares já sendo feitos no Brasil.
Portanto, mudanças doem. Podem doer muito. Mas quem não muda não se adapta às inexoráveis mudanças planetárias, científicas e tecnológicas, e a dor será muito pior. Charles Darwin explica.
A diferença para o passado é que as mudanças eram lentas demais, agora ocorrem na velocidade de cada instante. E estamos falando de seres humanos racionais que pensam e criam, não sendo apenas vítimas das circunstâncias.
Tirar os Estados Unidos dessa obviedade mutacional, com sua economia de US$ 25 trilhões e totalmente dependente do mundo nas suas cadeias produtivas de supply chain e de vendas, sem dúvida é utilizar uma tática de negociador no velho estilo antigo, berrando, esbravejando, com gritos que muito mais cedo do que se pensa ecoam e retornam às bocas que os vociferam.
Brasil + países do cinturão tropical do planeta terra, faixa entre os paralelos norte grau 33 e sul grau 33, com cerca de 58% da área útil agricultável a ser desenvolvida com tecnologia do mundo, e 70% da população, não tem outro caminho a não ser o inexorável modo sustentável. E urgentíssimo. Inclusive e principalmente na arte de liderar para o futuro.
E o Brasil aprendeu e sabe fazer isso na faixa tropical da terra. Os bons exemplos falam mais alto.
Inteligência para a transição é o maior desafio deste instante.
Recomendo, com ênfase, o livro “Lições de um século de vida” de Edgard Morin.
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.