Eldorado/Estadão - Xico Graziano fala do Febeapa agro! Festival de besteiras que assola o país, agro!
Publicado em 07/06/2023
DivulgaçãoEm 1966, o jornalista Sérgio Porto, sob o nome de Stanislaw Ponte Preta, lançou um livro extraordinário: Febeapá, o Festival de Besteiras que assola o país”. Eu conversei com o engenheiro agrônomo, agroambientalista e professor Xico Graziano para que ele nos dissesse 3 besteiras a respeito de meio ambiente que se fala por aí e que não são verídicas. Portanto vamos ouvir o Febeapá do agro com o Xico Graziano na Semana do Meio Ambiente. Ele fala sobre eucalipto, árvores exóticas versus nativas e aborda o mito de que o boi acaba com a água.
“Realmente o besteirol que ataca e agride o agro brasileiro é muito grande. Começa por esse que eu publiquei hoje na minha coluna sobre o eucalipto. Alguém veio dizer que o eucalipto não é do bem porque ninguém come eucalipto. Primeiro porque ele come, porque a celulose do eucalipto é utilizada como emulsionante de muitos e muitos alimentos. Deixa os alimentos mais saborosos, além daquela tripa que é utilizada em salsicha e linguiça que é de fibra celulósica. Mas o maior besteirol sobre o eucalipto é que ele seca o solo. Eucalipto não seca o solo. Não existe nenhuma diferença entre a quantidade de água absorvida por um eucalipto daquela absorvida pelas raízes de qualquer árvore. Acontece que se você plantar 300 plantas de eucalipto em um lugar só, vai chupar muita água do solo. A culpa não é do eucalipto, é da concentração. Se você plantasse 300 paineiras ou 300 sibipirunas, a quantidade de água que ia tirar do solo é exatamente a mesma. Então o Febeapá de besteiras que assola o agro é muito grande!”, disse Graziano.
Em seguida, deu outro exemplo: “Muito gente pensa, outro exemplo, de que produto orgânico não usa agrotóxico. Por isso eu prefiro orgânico porque orgânico é zero agrotóxico. Não é verdade. Isso é uma besteira total. O método orgânico de produzir permite utilizar agrotóxicos e não só defensivos biológicos não! Usa cobre, usa enxofre, que são produtos naturais, utilizados há mais de 80 anos no combate de pragas e doenças e que são tóxicos, mas que são produtos químicos naturais. Está lá na tabela periódica. Mas não é por causa disso que é do bem, precisa tomar cuidado. Tem prazo de carência. Precisa aplicar com cuidado”.
O terceiro, Graziano contou que “Estou me lembrando aqui e ainda nessa Semana do Meio Ambiente, tem muita gente que quando vê uma planta, uma árvore mesmo, essa árvore é exótica! Ah, essa aqui? Essa é nativa. Nativa é do bem, exótica é do mal. Uma outra pataquada muito grande. Vá passear lá no Ibirapuera, em São Paulo, aqueles frondosos eucaliptos que são originários da Austrália são maravilhosos, não tem nenhuma diferença entre essas plantas. Mas criou-se um mito, que acaba sendo uma besteira muito grande, de que existe uma vantagem. Claro, que na natureza, aquilo que faz parte do ecossistema natural cumpre missões. Quando você introduz uma planta de fora ou animal de fora, o animal exótico, ele pode causar desequilíbrios, mas isso depende do manejo que você faz. A mangueira é de fora, a jaca veio da Índia, pé de laranja não é do Brasil, então não pode ser criar essa discrepância, faz parte do Febeapá do agro também”.
E por fim, Graziano alerta: “A pior conversa deles é essa conversa de que para você poder produzir um quilo de carne, você gasta 15 mil litros de água. Como gasta? Essa ideia da pegada hídrica, que é um conceito interessante, é muito utilizado no setor industrial. Quanto você consome de água para produzir o carro, produzir uma geladeira, bens industriais. Aí pegaram o conceito da pegada hídrica, levaram para o ramo biológico e aí você fala que para produzir um quilo de carne você gasta 15 mil litros de água. Mas como? Você pode até dizer que o boi durante a vida dele bebe bastante água, mas cá entre nós ele bebe água e faz xixi. A água não fica dentro dele. Isso significa, desde lá o beabá, o ciclo da água na natureza. Então é preciso tomar cuidado quando esses conceitos são mal utilizados. Daí vem o besteirol, o Febeapá do agro. Não dá, não é?”
José Luiz Tejon para a Eldorado/Estadão.